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Falamos tanto da graça de Deus. Mas, afinal, você sabe o que ela é?

Atualizado: 6 de abr. de 2021


Basta conversar um minuto com uma velhinha piedosa para ouvirmos uma dezena de vezes a palavra “graça”: “Deus derramará a graça em seu coração”; “Tudo é graça”; “Maria obterá essa graça”. Essas e outras frases semelhantes são repetidas com frequência por muitos católicos, às vezes, infelizmente, num automatismo que carece de profundidade e compreensão teológica. Afinal, o que é a tão falada “graça”? Há um sentido mais comum da palavra, segundo o qual graça seria tudo o que Deus nos dá sem merecimento algum de nossa parte. A vida, por exemplo. Não merecemos nascer e vir a esta vida. No entanto, Deus nos criou e nos mantém na existência. Portanto, nesse primeiro sentido, a vida é graça. A saúde, o emprego, a inteligência, o pão de cada dia e tantas outras coisas podem também ser considerados “graça” nesse primeiro sentido mais amplo da palavra. Mas há um problema em reduzir a palavra a apenas esse uso: a fé em Deus torna-se apenas um meio para obter essas “graças” que dizem respeito a apenas esta vida presente. Se estou desempregado, rezo para São José para obter a graça de um emprego. Se estou doente, peço saúde. E assim por diante. Não digo que esses pedidos não devem ser feitos. Apenas digo que reduzir a graça de Deus a eles é limitador e nos cega para o mais importante. Para expandir o sentido da palavra graça, é necessário compreender a razão pela qual Deus nos criou, já que tudo que vem d’Ele é voltado para isso, inclusive, portanto, a Sua graça. Em apenas uma frase, poderíamos dizer que Deus nos criou para que participássemos de sua vida divina, que é uma vida de amor intenso. Isto é, Deus não nos criou para que vivêssemos apenas uma vida limitada à nossa natureza. Explico. Imagine um cachorro. Ele late, faz suas necessidades, pede carinho, come e dorme. Ele não faz muitas coisas a mais do que isso. Se víssemos um cachorro falando grego antigo e recitando Homero, decerto levaríamos um susto e procuraríamos um psiquiatra, já que não está em sua natureza fazer tal coisa. Apenas homens fazem isso. O homem, de igual maneira, faz coisas que são próprias de sua natureza. Ele não late, mas fala. Ele faz também suas necessidades, às vezes também pede carinho, come e dorme, igual o cachorro. Diferente do cachorro, o homem filosofa, pensa, estuda grego, escreve poemas, casa-se, diverte-se e uma infinidade de coisas a mais. Sabemos já, como dito acima, que Deus não nos criou para que fizéssemos apenas as coisas próprias de nossa natureza. Ele quis muito mais para nós. Ele quis que participássemos da Sua vida divina! Diante disso, um cachorro falando grego não parece grande coisa. Então, como Deus faz para que a gente participe de Sua natureza? Ele nós a Sua “graça”. Isso mesmo! A graça, num sentido mais profundo, é o instrumento usado por Deus para nos elevar para sua vida intensa de amor. Nós não conseguiríamos fazer isso com nossas próprias forças, já que nossa natureza não pode alcançar uma natureza maior que ela e infinita como a de Deus. Diante disso, aquele primeiro sentido da palavra graça parece pequenino, não é mesmo? A graça é uma realidade riquíssima e, para destrinchá-la em todos os seus tipos, serão necessários outros textos que ainda serão postados. Basta, por enquanto, que saibamos seu fim: elevar estes miseráveis que somos à santidade de Deus. 


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